texto acadêmico
Arquiteto Jorge Bomfim – trajetória profissional:

Nascido na cidade de Ribeirão Preto no ano de 1934, Jorge Olavo dos Santos Bomfim ingressou na Faculdade de Arquitetura Mackenzie em 1955. Teve como professores, entre outros, os arquitetos Cristiano Stockler das Neves, Adolf Franz Heep, Elisário da Cunha Bahiana e o engenheiro Roberto Rossi Zuccolo. Após sua graduação em 1959, Jorge Bomfim inicia sua carreira profissional como coordenador do recém constituído Departamento de Arquitetura da prefeitura de São Bernardo do Campo. Neste período, durante a segunda gestão do prefeito Lauro Gomes (1960-1963), a cidade de São Bernardo do Campo investiu significativamente em obras de infraestrutura urbana e equipamentos públicos para a população do município.

Durante toda a década de 1960, foram projetados por Jorge Bomfim e equipe, um grande número de edifícios institucionais, grupos escolares e centros de puericul- tura. O projeto de maior destaque realizado por Jorge Bomfim e a equipe de arquitetos da prefeitura foi o Paço Municipal de São Bernardo do Campo, projetado e construí- do na primeira metade da década de 1960. Como coordenador do Departamento de Arquitetura, visando atender a grande demanda de edifícios públicos a serem construídos, Jorge Bomfim convidou im- portantes profissionais a projetarem na cidade de São Bernardo do Campo. Deste período, podemos citar como exemplo os Ginásio do Taboão (1962) e Escola Municipal Baeta Neves (1967), de Paulo Mendes da Rocha e João De Genaro; Ginásio de Ferrazópolis (1966), de Ubirajara Gilioli; Conjunto Poliesportivo Baeta Neves, de Décio Tozzi e Luis Carlos Ramos, e o Ginásio de Vila Brasília (1966), de Paulo Melo Bastos e Léo Bomfim Jr..

No ano de 1961, Jorge Bomfim em sociedade com o ar- quiteto Toru Kanazawa, abre seu próprio escritório na cidade de Santo André e durante a década de sessenta divide seu tempo atuando na prefeitura de São Bernardo do Campo e em projetos particulares. Dos primeiros trabalhos realizados por seu escritório, podemos destacar dois importantes proje- tos: o campus do Centro Universitário do ABC (atual Funda- ção Santo André), onde o edifício da Faculdade de Filosofia (FAFIL) foi premiado com menção honrosa na 1ª bienal de arquitetura de São Paulo, e o Fórum da cidade de Santo André, edifício tombado pelo CONDEPHAT do es- tado de São Paulo.

O Fórum de Santo André está inserido no Centro Cívico Municipal, projetado pelo escritório Rino Levi em 1965, cujo conjunto tem reconhecimento internacional como importante exemplar da Arquitetura Moderna Brasileira.

A produção arquitetônica de edifícios públicos neste período, na Região do Grande ABC, figura entre as mais importantes e representativas da Arquitetura Moderna Brasileira, e tem sido, principalmente nos últimos anos, investigada por diversos pes- quisadores das áreas de arquitetura, urbanismo e patrimônio histórico recente.

No final da década de sessenta, durante a administração do prefeito Aldino Pinoti na cidade de São Bernardo do Campo, Jorge Bomfim deixa a prefeitura e passa a se dedicar exclusivamente ao seu escritório. Durante a década de 1970, o arquiteto projeta um grande número de residências (entre elas, a de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, em Santos), edifícios comerciais, como a sede do Jornal Diário do Grande ABC, além de realizar projetos de escala urbana, como a implantação do calçadão da rua Cel. Oliveira Lima e Praça do Carmo, no centro de Santo André.

Além de residências unifamiliares, edifícios comerciais e institucionais, realizados durante toda a sua vida profissional, é de grande destaque a produção de edifícios residenciais projetados pelo arquiteto, que desde o final da década de 1970 até o presente, apresenta uma vasta quantidade de trabalhos dedicados a este pro- grama.

Muitos destes exemplares estão localizados na cidade de Santo André, com de- staque para o Bairro Jardim, que a partir da década de 1980 apresenta um constante processo de verticalização. Ao contrário do que ocorre em grande parte dos edifícios residenciais existentes nas grandes cidades brasileiras, os projetos de Jorge Bomfim evitam uma solução estanque entre o edifício e a rua, geralmente fazendo com que o passeio público, imediatamente próximo ao edifício, seja parte integrante do projeto. Desta forma não se contemplam apenas as questões voltadas para o interior do lote, mas também a relação do edifício com o contexto urbano onde está inserido.

Enfocando a produção deste período, edifícios residenciais como Habitat, Village e Kipos, apresentam uma linguagem projetual alinhada com a arquitetura Brutalista, presente também em outros diversos projetos realizados pelo arquiteto. As obras identificadas com o brutalismo, além de possuírem a solução estrutural adotada como elemento definidor da forma final do edifício, caracterizam-se principalmente pela utilização do concreto armado aparente, que além de recurso tecnológico, passa a ser um elemento de expressividade plástica. No final da década 1990, seu filho, o arquiteto André Bomfim, torna-se sócio do escritório, participando desde então da concepção dos principais projetos realizados.

Os exemplares resultantes desta parceria, como os edifícios Klimt, Palladio, Debret, entre outros, dão seqüência à tradicional produção de edifícios residenciais realizada pelo escritório. Nestes projetos, observamos a continuidade da linguagem projetual e do rigor construtivo característicos do escritório de Jorge Bomfim, que além da utilização do concreto aparente e revestimentos cerâmicos, passa a utilizar também as linhas curvas como elemento de composição e expressão plástica.

O repertório técnico-formal que ao longo dos anos é aplicado em uma produção constante e diversificada, confere à arquitetura de Jorge Bomfim características marcantes como a relação harmônica entre o edifício e a cidade; a solução estru- tural, clara e didática, como elemento definidor da arquitetura construída, e a síntese entre a funcionalidade, conforto ambiental e expressão plástica, presentes em cada projeto. Estas características, além da ausência de elementos supérfluos ou modismos, resultam em uma arquitetura de caráter perene e identidade própria.

Luiz Boscardin Arquiteto e Urbanista (FAU-Mackenzie 2003) e mestrando pela mesma instituição com o tema “Arquiteto Jorge Bomfim – A arquitetura Brutalista presente nos edifícios residenciais do ABC Paulista”